Embora a existência de água em estado líquido no Planeta Vermelho tenha sido confirmada pela Mars Reconnaissance Orbiter (MRO, do inglês, Sonda Orbitadora de Reconhecimento de Marte) no ano passado, a comunidade científica está se preparando para uma análise mais minuciosa a respeito do assunto. Essa investigação pode ser fornecida pelo rover Curiosity da NASA visto que ele estuda a superfície marciana a partir do seu ponto privilegiado na Cratera Gale. Raina Gough da Universidade de Colorado em Boulder, uma química da equipe de pesquisa do rover Curiosity, espera descobrir mais evidências de água em estado líquido ao investigar processos químicos como a deliquescência. Deliquescência é um processo no qual o sal absorve vapor d’água vindo da atmosfera formando uma solução líquida. Isso pode criar salmouras líquidas em condições possíveis de existir, em certos momentos e lugares, na superfície de Marte. “Eu realizarei experimentos em laboratório nos quais estudarei a deliquescência, assim como o seu processo reverso, recristalização, em baixas temperaturas,” Gough disse para Astrowatch.net. “Isso permitirá a determinação das condições nas quais poderá existir água em estado líquido na fase de salmoura em Marte.” Uma partícula deliquesce ao absorver vapor d’água da atmosfera quando o valor de umidade relativa limite é alcançado. A umidade relativa de deliquescência (DRH) varia com a composição do sal bem como com a temperatura. O processo reverso, a recristalização de uma solução com sal para uma fase sólida é chamada de eflorescência e ocorre na umidade relativa de eflorescência (ERH). Estas faixas escuras, estreitas, com 100 metros de comprimento, chamadas de linhas de encosta recorrente (recurring slope lineae), fluem descendentemente em Marte e infere-se que foram formadas por água corrente contemporânea. Recentemente, cientistas planetários detectaram sais hidratados nessas encostas na cratera Hale, corroborando sua hipótese original que as faixas foram, de fato, formadas por água em estado líquido. A coloração azulada vista nas subidas dessas faixas escuras não são relacionadas pelos cientistas à sua formação, mas, ao invés disso, pela presença do mineral piroxena. Créditos da Imagem e Captura: NASA/JPL/Universidade do Arizona. Os cientistas utilizarão um aparelho microscópico que utiliza laser chamado ‘Raman microscope’ (microscópio Raman) para determinar os valores da DRH e da ERH de sais e misturas salinas relevantes de Marte em condições em baixa temperatura. Assim como Gough remarcou, o conhecimento a respeito desses valores é necessário para prever quando e onde soluções aquosas de sais podem existir na superfície de Marte. “Combinado aos dados da Estação de Monitoramento Ambiental do Rover (REMS), isso pode possibilitar uma previsão de quando e onde a salmoura pode existir no local de aterrissagem,” Gough disse. “Essa informação pode ser utilizada para guiar o Albedo Dinâmico de Nêutrons (DAN), Análises de Amostras em Marte (SAM) e talvez estratégias analíticas da ChemCam (do inglês, Câmera Química) para possivelmente detectar ou reprimir a presença e duração de pequenas quantidades de água líquida na Cratera Gale.” O instrumento REMS a bordo do Curiosity fornece relatórios diários e sazonais sobre pressão atmosférica, umidade, radiação ultravioleta na superfície marciana, velocidade e direção do vento, temperatura do ar e do solo ao redor do rover. O DAN é um gerador de pulso de nêutrons sensível o suficiente para detectar o conteúdo da água seja este tão pouco concentrado quanto um décimo de um por cento e para revolver camadas de água e gelo abaixo da superfície. O instrumento SAM é capaz de detectar compostos orgânicos como metano assim como elementos leves, como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, associados à vida. Esses instrumentos são complementados pela ChemCam, que dispara um laser e analisa a composição elementar de materiais vaporizados–reconhecendo gelo e minerais com moléculas de água em suas estruturas cristalinas. Gough tentará determinar como os sais presentes em Marte e na Cratera Gale, em particular, podem facilitar a formação e a estabilidade de salmouras líquidas a partir da deliquescência. “Sais de perclorato são muito deliquescentes, mesmo em temperaturas baixas!” Gough disse. “A quantidade de água em estado líquido formada pode ser pequena já que não há muito vapor d’água na atmosfera, mas a presença de água em estado líquido seria por si só muito interessante por várias razões e aplicações como habitabilidade, conhecer o ciclo hidrológico e talvez até exploração humana.” Percloratos já foram vistos em Marte. A sonda Phoenix da NASA e o rover Curiosity os encontraram no regolito do planeta e alguns cientistas acreditam que as missões Viking na década de 1970 mediram as assinaturas destes sais. O estudo do fluxo descendente marciano, conhecido como linhas de encosta recorrente, foi conduzido em 2015. Este estudo detectou percloratos, em forma hidratada, em áreas diferentes das exploradas pelas sondas. Foi, também, a primeira vez que percloratos foram identificados a partir da órbita. Agora, os cientistas esperam por novas descobertas vindas de instrumentos utilizados em solo.
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